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sábado, 20 de setembro de 2014

SMFVI

Grupo Marcos

O nome Marcos – o nome-símbolo do grupo é uma homenagem a uma encarnação de Eurípedes Barsanulfo, nosso dirigente espiritual, que ocorreu à época de Cristo.

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Se a Mediunidade Falasse VI

Antes do Consolador

    

 

 

Sumário

 

 

Apresentação do Grupo Marcos, 5

Nosso maior compromisso é com a coerência, o estudo e divulgação da obra de Allan Kardec. A Codificação e a Revista Espírita em todas as nossas produções.

 

Apresentação da Série, 7

Psicografar é um ato de descoberta empolgante, de convívio com os bons espíritos e de aprendizado cristão.

 

Capítulo I – Uma Aula Diferente, 9

 

Regressão de memória e psicografia são essenciais a quem quer conhecer a realidade espiritual e  contribuir para a difusão da verdade.

 

Capítulo II – Como nos Tornamos Demônios , 11

 

Quando se estuda história, investiga-se o livre arbítrio humano e, muitas vezes, a nosso história ao longo do tempo. A Idade Média foi uma opção humana, pois poderíamos ter evoluído de outra forma a partir da civilização romana e grega com a inspiração cristã.

 

 

Capítulo III – Swedenborg: Precursor da Mediunidade Espírita, 23

 

O arrependimento sincero é o único caminho que pode nos levar a Deus. Assumamos ser espíritos imperfeitos. Quem precise fingir para ser aceito em uma ambiente, deve mudar de ambiente de atuação. É melhor se tornar um trabalhar apagado e abnegado do que um líder espírita envolto em trevas.

 

 

Capítulo IV - O Início da Profecia, 35

 

Bons Espíritos assistem aos que servem a Deus com humildade e desinteresse, e repudiam a qualquer que procure, no caminho do céu, um degrau para as coisas da Terra; eles se afastam dos orgulhosos e dos ambiciosos.

 

Ivan de Albuquerque,47

É o espírito amigo que desde 2001 coordena ostensivamente nossas atividades.

 

Breve Explicação,48

Cabe a nós, os encarnados, pesquisar, traduzir e citar os trechos apontados.

 

 

 

 

Apresentação do Grupo Marcos

 

 

 

Grupo Marcos é um grupo de amigos, amigos encarnados e desencarnados, amigos jovens e adultos, amigos estudiosos e aprendizes, um grupo cristão.  O nome Marcos - o nome-símbolo do grupo – é em homenagem a uma encarnação de Eurípedes Barsanulfo, nosso dirigente espiritual, que ocorreu à época do Cristo. Marcos foi um essênio que se tornou verdadeiro cristão.  Essa história você pode conhecer no livro A Grande Espera, da Editora IDE (Instituto de Difusão Espírita).

 

Nossos Princípios

 

1.                      Todos produtos do grupo Marcos (livros, dvds, programas de áudio e de vídeo etc) são colocado gratuitamente à disposição em nosso site www.grupomarcos.com.br, sendo previamente autorizado imprimir, copiar, divulgar. No caso do livros impressos ou dvds gravados será  cobrado o exato valor do custo.

2.                    As produções (mediúnicas ou não) levam apenas o nome Marcos e dos amigos espirituais, quando for o caso;

3.                    A filiação ao grupo não tem formalidade ou nem taxa, basta entrar em contato e falar como deseja ajudar;

4.                    Nosso maior compromisso é com a coerência, o estudo e divulgação da obra de Allan Kardec. A Codificação e a Revista Espírita norteiam todas as nossas produções;

5.                    Nosso compromisso específico é com a formação da Nova Geração, sem excluir ninguém de nossas atividades;

6.                    Nos propomos a produção de livros, de programas de áudio e de encontros de estudo como nossa principal contribuição ao movimento espírita.

 

 

 

Apresentação da Série

 

 

Amigo e amiga, vamos conversar sobre a obra que você vai ler. Primeiro quero dizer que você é muito importante para o Grupo Marcos. Todos os nossos esforços tem apenas um único objetivo, aproximar os corações que amam o Cristo e querem servir mais e melhor.

Vou contar um pouco a história deste livro. Quando começou ser transmitido pensei que fosse uma peça teatral, depois percebi que seria um livro e em seguida uma série... Fui descobrindo isso aos poucos. Como observador atento, fui descobrindo os acontecimentos, conhecendo Felipe, suas dúvidas, medos e aventuras. Psicografar é um ato de descoberta empolgante, de convívio com os bons espíritos e de aprendizado cristão.

Possuo a mediunidade de psicografia intuitiva o que me permite estar plenamente consciente no momento em que psicografo. Muitas vezes, quando alguém me via psicografar pensava que estava escrevendo... De fato, estava, mas escrevia a história de outro escritor. Este livro foi inteiramente psicografado em meu quarto, em horários combinados com os amigos espirituais, após a preparação do ambiente espiritual durante o qual fiz o Culto do Evangelho diariamente, o que se tornou um hábito que mantenho de segunda a sexta-feira. Ensinam os bons espíritos que a casa do cristão deve ser um lugar de elevada vibração espiritual, apesar de nossas limitações pessoais, devemos nos esforçar para atingir essa meta.

Dito isso, vamos falar um pouco dos autores espirituais. O coordenador espiritual de nosso grupo é o espírito Ivan de Albuquerque. Explica-nos esse amigo que nessa série encontraremos, como no Novo Testamento, diferentes estilos literários, inclusive, representações simbólicas como as empregadas por Jesus em suas parábolas. Ninguém, portanto, se espante ao encontrar a mediunidade representada por uma simpática senhora. Alerta-nos o amigo que o Cristo também usou do simbolismo para melhor ensinar a verdade. E esse é o objetivo: apresentar a você a grandeza da codificação espírita e da beleza da obra de nosso Pai. Facilmente você diferenciará o ensino simbólico da realidade objetiva como fazemos ao ler o Novo Testamento.

A coordenação das histórias é de responsabilidade de Ivan de Albuquerque e as aulas vivenciadas por Felipe, nosso personagem central, tem como autores os professores que as ministraram. Consequentemente, cada aula  ou exposição da série Se a Mediunidade Falasse possui autor específico.

O respeito a estes amigos que colaboram conosco nos leva a destacar que expressamos, com máximo respeito, as suas ideais, pensamentos e sentimentos. Esses Espíritos amigos são os verdadeiros autores desta obra. Para eles, o que mais importa é nos estimular o estudo e a reflexão sobre a grandiosa obra de Allan Kardec e sua aplicação em nosso dia a dia. A vaidade em aparecer não existe em seus corações e deixaram para nós a decisão de os identificarmos por pseudônimos ou como eram conhecidos na Terra. Após longa reflexão, nós do grupo de encarnados, decidimos apresentá-los com seus nomes verdadeiros, apenas por um motivo, estimular a você, amigo leitor, a ler e estudar suas obras, pois alguns deles deixaram excelentes livros que devem ser conhecidos de todos. Na medida do possível, suas obras são citadas no livro.

Em nosso caso, os encarnados, optamos por nos apresentarmos como grupo Marcos. Assim, a atenção é direcionada para o conteúdo da obra e não para especulações que podem nos distanciar dos critérios de Allan Kardec. Afinal, deve-se avaliar a obra e não os médiuns que a receberam, pois a série Se a Mediunidade Falasse será recebida por diversos médiuns.

Para concluir, quero falar da alegria que sentimos com a proximidade de nosso publicação! Sonhamos em ter contato com vocês, jovens amigos! Sabemos que muitos entenderão e se empolgarão com a proposta de nosso grupo, sejam benvindos ao grupo Marcos! Entrem em contato conosco. Queremos multiplicar o número de amigos e de trabalhadores cristãos! Quem sabe um dia não nos conheceremos pela internet nosso podcast semanal – o PodSim - ou em encontros que desejamos realizar por todo país? Antes de tudo, quero dizer, se este livro está em suas mãos, estamos muitos felizes! Nosso sonho começa a se concretizar e convidamos você a fazer parte dele. Boa Leitura.

É o desejo de todos que formam o grupo Marcos!

 

Capítulo I

Uma Aula Diferente

 

Como a história do espírito é fascinante! Tantos tempos vivemos, tantas época participamos. Saberemos um dia todas as existência que tivemos? Quantas vezes nobres, quantas vezes pobres... Será que já fui algum sábio no passado? Onde estava à época da independência do Brasil? Pensa Felipe, enquanto o professor de história explica a proclamação da independência do Brasil e o tumultuado período da regência. Quando os homens  e mulheres conhecerem a realidade espiritual, a compreensão da história mudará. Fala pai Joaquim telepaticamente. Felipe olha para o lado e o vê perto do professor sorrindo.

-        Hoje, se ele soubesse que estou aqui, diz olhando para o professor, sairia correndo. Nossa missão é pouco a pouco mostrar a todos a realidade espiritual para que aceitando a própria imortalidade e as Leis de Deus todos vivam melhor. Explica o amigo espiritual de Felipe.

Felipe tudo observa empolgado. Nunca pensou que pai Joaquim o fosse visitar na escola. Sem chamar atenção do amigos, não queria assustá-los, concentra-se e vê também Aureliano aplicando um passe em Avelino.

-   Estamos muito felizes com o a aproximação de vocês. É o início da formação de nosso grupo de ação no mundo. Explica Aureliano enquanto aplica energias em Avelino que se sente invadido por estranho bem-estar.

No intervalo, Avelino procura Felipe para comentar sobre o livro Renúncia, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

-   É verdade que existe vida em outros mundos? Indaga Avelino.

-   Sim, vida material em uns e em outros apenas espiritual. Responde Felipe.

-   Mas é possível ter mais informações sobre isso? Como posso saber mais alguma coisa? O que você sabe? Como é esse vida? Avelino mal pode conter sua curiosidade.

-   Calma, diz Felipe, contente por ter encontrado alguém que como ele é fascinado pela grandeza da obra de Deus. Existem muitas informações em bons livros mediúnicos e na Revista Espírita.

-   Quero que você me indique onde encontrar. Fala Avelino.

 

 

-   Não se preocupe. Você descobrirá mais coisas interessantes do que pode imaginar. Fala Felipe imaginando se Avelino participaria das aulas do Colégio Allan Kardec. Mas, como orientou pai Joaquim, nem tão devagar nem tão rápido. Ele ainda não tinha concluído a primeira leitura de O Livro dos Espíritos e sem ele não se entende quase nada.

Felipe volta para casa feliz. Ter um amigo para falar sobre Espiritismo e mediunidade é uma grande alegria. À tarde, ele estuda e no fim do dia joga no computador. A partir das sete horas da noite, dedica-se ao Espiritismo conforme um programa que ele traçou inspirado por seu guia. Meia-noite, adormece. Sai do corpo com facilidade, é o resultado do programa que vivencia com muita disciplina.  

Ao chegar ao colégio, encontra Abelardo e Alessandra. Ele está fazendo o curso de terapia de vidas passadas e ela o de psicografia. Conversam sobre o que cada um tem aprendido. Felipe fala entusiasmado de Avelino e da esperança em trabalhar com Gabriel Delanne. Abelardo relata as regressões que vivenciou e as que realizou. Alessandra conta de seu programa de psicografia e dos exercícios que realiza em casa. Como gostariam de conversar mais! Felipe, se pudesse, faria todos os curso de uma só vez.

- Regressão de memória e psicografia são essenciais para quem quer conhecer a realidade espiritual e  contribuir para a difusão da verdade. Logo que der, farei esses cursos.  Fala Felipe ao se despedir.  

Todos estão felizes. Alegria real é crescer espiritualmente.  É transcender a mediocridade de uma vida presa a matéria. Felipe sobe as escadas. Antes de iniciar o quarto lance faz uma prece. Não pede para não sofrer, mas para que aquela experiência o torne melhor. Enfrenta com tranquilidade a sensação de morte. Morrer eu não morro. Fala para si mesmo e mantém a calma. Chega a sala. Senta-se. Mantem-se em silêncio.

 

 

 

 

Capítulo II

Como Nos Tornamos Demônios

 

 

 

Inicia a projeção da aula que ocorre no primeiro andar, para o grupo que está em recuperação, formado por Eclésio, Rivalina, Astrobrito e Romildo.

-  Sejam bem-vindos! Cumprimenta José a todos. É uma grande alegria estar com vocês novamente. Vocês e os alunos do quarto andar. Ivan será o nosso professor na aula de hoje.

Ivan levanta-se. Cumprimenta José e Patrícia. Faz a prece e inicia.

Vamos estudar os fenômenos mediúnicos na Idade Média, bem como o período anterior a ida do Consoladorao mundo da matéria densa. Depois da deturpação da orientação do Cristo de como viver e de como conduzir a mediunidade, pelos motivos que descobrimos no módulo anterior, a Idade Média representa a mistura entre o modo de viver cristão e não-cristão. Vamos explorar os motivos psicológicos que geraram esse confusão para que nos preparemos para viver, no futuro, uma vida cristã. Quando se estuda história, investiga-se o livre arbítrio humano e, muitas vezes, a nossa história ao longo do tempo. A Idade Média foi uma opção humana, pois poderíamos ter evoluído de outra forma a partir da civilização romana e grega com a inspiração cristã. A sociedade humana optou por não seguir o Cristo. Assim ampliou seu sofrimento por dois milênios. Hoje, o livre arbítrio possibilita mais uma vez a escolha, porém, os que não quiserem espiritualizar-se, serão encaminhados a outros mundos.  Conclui Ivan e anuncia. O tema da aula.

 

Como Nos Tornamos Demônio

 

 

-  Não se assustem, nossa caminhada é sempre em direção a Deus, mas é parte do processo evolutivo avaliar os erros passados e reconhecer nossa responsabilidade por aquilo que nos tornamos. Não vai nascer chifre nem rabo em ninguém. Explica com bom-humor.

Todos riem.

 

- A Idade Média é um longo período em que o ideal cristão da mediunidade abnegada e a busca de interesses inferiores se chocam. Isso leva a proibição dos fenômenos mediúnicos e as consequências dessa proibição ainda são vividas no atual movimento espírita encarnado. Muitos dos perseguidores da mediunidade reencarnaram como espíritas, comprometendo-se a reparar os erros passados, mas nem todos conseguem e continuam, de maneira direta ou disfarçada, a combater o intercâmbio entre encarnados e desencarnados. A proibição da prática mediúnica e suas consequências psíquicas, culturais e históricas é o que estudaremos hoje. Peço, nesse instante, a colaboração vibratória de todos. Conclui Ivan.

 Patrícia dá um sinal a dois auxiliares, legionários romanos, que trazem um espírito muito agressivo que grita alto.

- Não vejo nada. Não vejo nada. Quem me prende, quem me cega! Malditos! Malditos! Vingar-me-ei de todos! Bruxos malditos! Serão queimados novamente!

O espírito foi conduzido até próximo a Patrícia. Ela agradece aos espíritos ajudantes e diz.

- Sentai-o e podem soltá-lo.

Os alunos ficam com medo. Os legionários obedecem com tranquilidade, conhecem Patrícia. Ela olha para ele. Envolve-o em sua energia controlando-o e permitindo que ele veja.

- Agora estou vendo! Vou pegar vocês! Grita com voz estridente e ameaçadora.

Rivalina treme. Ivan chama-lhe a atenção. Ela se acalma.

- Vamos conversar. Não tente fugir nem perca tempo com ameaças. Fala Ivan com tranquilidade.

- Eu lhe conheço! Grita. Você é Ivan de Albuquerque que trabalha com jovens espíritas. Sou o seu inimigo! Sou o sedutor dos jovens médiuns. Diz gargalhando.

- Chegou a sua hora meu amigo. O Cristo determinou uma transformação mais profunda do mundo. Ordenou a multiplicação das mediunidades para que todos possam se espiritualizar. Você não pôde ir contra Eurípedes nem contra o Cristo. Eles agem em nome de Deus! Reflita, está na hora de mudar. Fala Ivan.

- Agora que a luta fica melhor você quer eu pare! Nunca! Jamais me renderei ao Cordeiro! Nunca! Grita Bocó.

- Por que atacar os jovens médiuns?

- Ectoplasma... Diz sorrindo maliciosamente.

- Explique-se melhor. Fala Ivan.

- Não, não quero! Responde.

- É necessário. Vai lhe ajudar a aclamar sua consciência. Insiste.

Após um momento de silêncio, ele começa a falar palavras sem sentido, ninguém entende.

- Não, não, você não, por favor.... Você não! Deixe-me sair, você não! Ele sente uma presença estranha.

Nesse momento, sai de Patrícia uma quantidade imensa de ectoplasma que se junta ao ectoplasma de todos. Ninguém sabe exatamente o que está acontecendo. Aos poucos fica claro, todos compreendem. Uma materialização! Fascinante. Pensa Felipe. Pouco a pouco, o vulto de um senhor idoso e de barba toma forma. Seus olhos translúcidos e poderosos irradiam paz. É Bezerra de Menezes! Grande amigo de Eurípedes. Todos se emocionam. Ele, materializado, se dirige ao espírito comunicante que, ao vê-lo, baixa a cabeça e diz.

- Não... Não me peça o impossível! Não me peça! Sei que salvou minha filha das regiões infernais. Devo-lhe isto, mas... Por favor... Não me peça o impossível!

Bezerra abraça-o carinhosamente e nada diz.

Bocó, o espírito agressivo, chora convulsivamente. Faz-se silêncio.

- Meu filho, diz Bezerra, há quanto tempo lhe busco o coração! São séculos de dor e de sofrimento. Eu sofro por você. Conversamos em tantos momentos e em tão diferentes ocasiões... Sei que não posso obrigá-lo. O Pai nos deseja livres. Peço-lhe apenas uma coisa: olhe estes que aqui estão. Olhe Rivalina, Romildo, Eclésio e Astrobrito. Sinta suas dores e angústias. Sua filha irá reencarnar e será acolhida no seio do movimento espírita.

Bocó treme.

Bezerra continua.

- Filho, queres o mesmo destino que eles tiveram para tua filha amada? Sabes que sem a mediunidade santificada, será praticamente impossível para ela vencer as más inclinações que ainda é portadora. Filho amado, nada te peço. Mas se queres iniciar teu caminho de volta ao Pai e no futuro ser acolhido por tua filha amada como neto, corrige teu rumo, corrige agora. É apenas isso que te peço: faze isso, por mim e  por tua amada filha.

 Bocó chora em silêncio... Todos aguardam, envolvendo-o com suas energias. Não se sabe qual será sua reação, mas as vibrações de amor sempre ajudam. Após alguns minutos, diz.

- Venceste! Aceito. O júbilo foi geral. Bezerra abraça-o mais uma vez, mas Bocó, vendo que o benfeitor vai se despedir, pede.

- Espere. Dá-me a chance de recomeçar agora. Quero falar a estes que aqui estão, talvez estas palavras cheguem a minha filha... Bezerra olha para Ivan consultando-o, pois os espíritos evoluídos desrespeitam ninguém e Ivan é o responsável por aquela aula. Ivan concorda.

- Fala, filho, eu te ajudarei. Diz o médico dos pobres.

 

 

- Quero fazer uma confissão. Quero falar a minha história... Era um simples sacerdote na Idade Média. Foi quase por acaso, enquanto ouvia uma confissão, que descobri a mediunidade e logo entendi seu potencial para a espiritualização do ser. Era por meio dela que meu guia espiritual queria me chamar a atenção para as obrigações de uma vida verdadeiramente cristã. Mas, coitado de mim! Só pensava em riqueza e  poder! E de tanto desejar e cobiçar a riqueza, pouco a pouco, me tornei um médium das trevas!  E como médium das trevas tudo fiz para proibir a mediunidade. Sabem por quê? Por causa do ectoplasma. Poucos sabem disso, mas no mundo espiritual inferior o ectoplasma é moeda preciosa. O ectoplasma é que faz funcionar a economia das regiões de trevas.

- Como isso acontece? Indaga Astrobrito estarrecido.

- O ectoplasma é um tipo de energia que se gasta para possibilitar o fenômeno mediúnico e que também é gasta na prática de qualquer atividade enobrecedora. É a energia, a substância que “liga” os encarnados aos desencarnados. É através dessa energia que transferimos nossas sensações para os encarnados. Sensações de medo, de pavor, de angústia. O que quisermos. É também através dessa energia que “pegamos” as sensações dos encarnados. Sensações sexuais, de embriaguês, das drogas... Tudo que quisermos desde de que eles sejam invigilantes. É por isso que digo que essa energia é “nossa” moeda. Quando contratamos um “serviço” prometemos prazeres e sensações que agradam os executores. E quase sempre o “serviço” contratado gera mais ectoplasma. Precisamos sempre dessa moeda. Por isso, fazemos tudo para consegui-la.

- E como vocês fazem para consegui-la? Pergunta Rivalina.

Bocó baixa a cabeça. Não se sente com força para continuar. Bezerra coloca a mão sobre Bocó e diz.

- Filho, é importante que continues, aquele que se dispôs ao trabalho do bem nunca se deve permitir o cansaço enquanto não  cumprir o dever. Prossegue.

Tomado de novo ânimo, ele continua.

  - Todos produzem ectoplasma, mas não podemos simplesmente ir e pegá-lo das pessoas. É necessário que elas produzam e não usem. Somente assim ele pode ser “colhido”. O ectoplasma quando não utilizado fica como um “leite azedo” é disso que nos alimentamos. Quanto mais emoções desequilibradas e a ausência de atividades do Cordeiro, melhor é nossa “colheita”. “Desequilíbrio e inutilidade: colheita farta” é o lema que utilizava.

- O que tem haver isso com a mediunidade? Pergunta Eclésio.

 

- Tudo! O médium é um indivíduo que produz ectoplasma em abundância e o trabalho mediúnico bem orientado equilibra esse ectoplasma, porque o utiliza para o socorro dos sofredores e o contato com os bons espíritos, além  de educar as emoções do médium. Isso acaba com toda a economia das trevas! Você entende? Acaba com tudo! Por isso, lutamos tão desesperadamente contra a prática mediúnica equilibrada! Mediunidade só se for orientada por espíritos brincalhões ou das trevas, assim é mesa farta para todos nós.

Todos estão estarrecidos.

- Como foi a sua atuação na Idade Média? Pergunta Ivan.

- Conseguimos muita coisa! A proibição dos fenômenos mediúnicos gerou muita conexão conosco. Espíritos com depravações sexuais tinham acesso muito fácil aos “santinhos” da Igreja. Íncubos e súcubos, eram o nome dos espíritos sensuais à época, eram as legiões de obsessores sexuais. A santidade aparente, fingida, é o melhor meio para chegar à depravação. E quem ousasse quebrar nosso bloqueio era queimado! Não podíamos pegar os corajosos nem no corpo nem fora dele. Eles empregavam bem suas energias e isto gera mais coragem e equilíbrio. O ectoplasma deles tem um “cheiro” e um “gosto” que detestamos! Mas, muitos eram covardes e cínicos, isto nos servia muito bem.

- Obrigado. Agradece Ivan.

- Perdoe-me. A tanto tempo afasto os jovens da mediunidade. Fala Bocó.

- Se Deus permitiu nosso encontro foi para que eu te ajudasse. Aguardei cem anos por esse momento. Agora, acompanharei teus passos e quando você reencarnar serei o amigo espiritual que te lembrará sempre que mediunidade com o Cristo é abnegação. Responde Ivan.

Bocó chora...

Bezerra está feliz. Fala para todos.

- Filhos, que a lição de hoje seja propagada para todos os jovens da Terra. Trabalhai, trabalhai sempre até que a ignorância espiritual seja extinta. Ajudai aos espíritas que devem ser a luz do mundo, mas que nesse momento tanto precisam de ajuda. Ajudai-os e eles serão auxiliares valorosos do Cristo na construção do Reino de Deus na Terra.

A imagem de Bezerra se desfaz. Os dois legionários entram e levam Bocó desmaiado. Patrícia abre os olhos e sorri.

Rivalina começa a narrar tudo o que tinha acontecido, mas Patrícia lhe diz carinhosamente.

- Eu sei. Não precisa me contar.

 

 

Após um instante, para enxugarmos as lágrimas, Ivan indaga.

-   Questões?

-   O que você quis dizer com o título da aula. Como nos tornamos demônios?  Pergunta Astrobrito.

-   Observe as lições que Bocó nos trouxe. Quando fugimos de nosso crescimento emocional e espiritual, as energias que deveriam ser direcionadas para nossa evolução são utilizadas por espíritos inferiores para nos inferiorizar, assim nos tornamos demônios. Quer dizer, ao invés de crescermos espiritualmente somos estimulados a ampliar nossos sentimentos e desejos inferiores.

-   Esse é o nosso livre arbítrio? Pergunta Romildo.

-   Exatamente. Nosso livre arbítrio está no poder de escolher entre a espiritualização e a inferiorização. Nós não temos o poder em alterar a Lei de Deus, quem não cultivar a transformação dos sentimentos e a ação no bem, colherá o mal. Explica Patrícia.

Rivalina pergunta.

- Mas, Bocó é mesmo um demônio, pela sua aparência diria que sim?

Vejamos o que nos diz o livro-amigo, O Livro dos Espíritos. Fala Ivan.

 

131. Há demônios, no sentido que se dá a essa palavra?

– Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus. E Deus seria justo e bom, criando seres infelizes, eternamente voltados ao mal? Se há demônios, é no teu mundo inferior e em outros semelhantes, que eles residem: são esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo, e que pensam lhe ser agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome.”

-E os anjos, também, são apenas ficção?  Pergunta Eclésio.

Em relação aos anjos temos as questões 128, 129 e 130.

 

128. Os seres que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?

– Não; são Espíritos puros: estão no mais alto grau da escala e reúnem em si todas as perfeições.

 

 129. Os anjos também percorreram todos os graus?

– “Percorreram todos. Mas, como já dissemos: uns aceitaram a sua missão sem murmurar e chegaram mais depressa; outros empregaram maior ou menor tempo para chegar à perfeição.”

 

130. Se a opinião de que há seres criados perfeitos e superiores a todos os outros é errônea, como se explica a sua presença na tradição de quase todos os povos?

– “Aprende que o teu mundo não existe de toda a eternidade, e que muito antes de existir já havia Espíritos no grau supremo; os homens, por isso, acreditaram que eles sempre haviam sido perfeitos.

 

Após a leitura, pede Ivan que se forme duplas e tentem responder a seguinte pergunta: em que a Idade Média marcou a postura psicológica de vocês em relação aos fenômenos mediúnicos?

 

I – Eclésio e Rivalina.

 

Eclésio inicia sua auto-análise.

- Tenho que admitir, me identifiquei muito com o que Bocó falou. Mesmo sendo espírita, tinha conduta sexual desequilibrada e fingia santidade! Tinha um conjunto de técnicas de comportamento exterior que trouxe da Idade Média e que faz muito sucesso com espíritas do mundo: gestos calculados, aparência de santidade e linguagem adocicada. Meus tolos amigos achavam que isso era sinal de elevação! Era só falar com a modulação certa e já era adorado. Coitados, deles e de mim! Muitos me imitavam, diziam que era para evoluir. Enquanto isso, tinha o hábito de frequentar prostíbulos! Como é fácil enganar os crédulos beatos... Eclésio não consegue prosseguir.

Rivalina inicia.

- Sabe Eclésio, na Idade Média, também me vesti de falsa santidade. Tudo fazia para agradar a todos, mas não me sentia bem. Ao deitar, dava-me conta do desprezo por tudo que vivia sem concordar. Não rezava, tinha medo de qualquer contato espiritual. Só rezava nas orações comuns do convento e sempre com os olhos abertos. Treinei, treinei muito para ter uma voz doce, de santa... Isso me acompanhou em minha última encarnação... Tinha que ser santa como católica ou espírito evoluído como espírita. E minha voz e meus gestos provariam que eu era! Abafei em mim meus sentimentos verdadeiros, minha autenticidade e, inconscientemente, sabia que a mediunidade revelaria quem eu era. Eu era apenas um ser humano, mas não queria aceitar isso! Sei que alguns usam a mediunidade como trampolim para a fama, tem médium que aparece mais que apresentador de televisão. Eles montam várias estratégias de marketing para serem sempre falados. A verdade é que sou parecida com eles, optei pela “santidade da fuga” negando a mediunidade ao invés da “santidade do exibicionismo”. É o mesmo fenômeno por meios diferentes, ambos desnaturam a mediunidade. Hoje, eu sei que mediunidade sadia é aquela vivida com naturalidade e honestidade. Nem mediunidade de “santo exibicionista” nem mediunidade reprimida de “santo  isolacionista”. O certo é ser humano: autêntico, espontâneo e honesto, respeitando os outros e a si mesmo. Humildade é aceitar-se como se é. Admitir qualidades e defeitos. Acima de tudo, ter disposição para seguir sempre inspirado pelos espíritos superiores. Eles nos amam e se dispõe a nos auxiliar basta que deixemos. É difícil admitir os limites e erros, mas é sempre melhor do que se tornar um falso profeta. Conclui Rivalina com esforço.

 

II - Astrobrito e Romildo

 

- Foi muito fácil para eu ser palestrante famoso: tem um “kit gesto-postura” que se você adotar é sucesso na certa. Fala Astrobrito angustiado. É uma confissão dolorosa. Foi na Idade das Trevas que eu aprendi isso. Gestos, gestos, gestos! Como fui tolo! Treinava mais a postura para a palestra do que pensava na importância do que falaria. Nunca pensava na minha vivência. Atitudes mansas, determinadas posturas das mãos, gestos faciais, tremia as pálpebras... Hoje vejo: tudo isso é ridículo! Evolução não é artificialismo de etiqueta, muito menos a etiqueta brega que adotei. Desumanizei-me. Perdi a capacidade de ser autêntico, fraterno, amigo. A todo instante, adotava postura artificial e me acostumei a ilusão de que isso era “marca de elevação”.  Quando vejo a sinceridade de Eurípedes e de nossos professores assusto-me. Criei um mundo torpe de falsa elevação e quantos me seguiam e ainda seguem! Astrobrito não consegue continuar.

É o choque de realidade. Fingiu ser evoluído e para sua própria infelicidade muitos acreditaram nele.

- Sempre apoiei este tipo de atitude. Quantos palestrantes convidei para visitar a casa que dirigia porque tinham estes gestos de santidade. Até dizia, são do mesmo grupo espiritual. Fala Romildo.

- Somos sim. Somos do grupo dos falsos profetas! Diz Astrobrito baixando a cabeça.

- É verdade. E eu também sou responsável, sempre apoiei este tipo de palestrante. Dava status. Eles sempre me elogiavam: uma maldita troca! Comercializávamos a adoração que era o alimento de nossa vaidade. E assim traímos o Cristo...Mais uma vez. Conclui Romildo.

Estes momentos poderiam ser de amenidades, mas por orientação de Eurípedes Barsanulfo, devia-se gerar uma reflexão mais profunda. O relógio da evolução marca o fim de todas ilusões para os habitantes da Terra. A expressão arte-cultural foi realizada por meio da composição de poemas. O poema de Romildo foi eleito para representar o grupo. Deixo-o para sua avaliação.

 

 

Idade de trevas, dor e ignorância

 

Os amados do Mestre triturados pelas garras medonhas do mal.

Espíritos de luz condenados às masmorras infectas pela mórbida ganância material.

Deus envia a luz. Queremos as trevas! Trevas! Trevas! Gritávamos, gritávamos. Nós, os pregadores da maldade.

Revoltosos e infelizes; angustiados e covardes – somos nós – encarnados ou desencarnados - os negadores da mediunidade!

O sofrimento desaba sobre nós. Piedade, piedade! Gritamos debalde.

Apieda-te Senhor da nossa imensa dor! A dor dos negadores da mediunidade!

Ensina-nos a entrar em contato contigo e com os guias da Humanidade!

Misericórdia, misericórdia! Não afaste de nós Tua luz que tanto neguei e agora tenho necessidade.

Ajude-me, ajude-me. Repararei!

Mais uma vez, mais uma vez. Suplico. Piedade!

Serei Teu servo, servindo aos que gemem no mundo ou nas trevas da baixa espiritualidade.

Apieda-te, socorre-me, deixa-me ser médium e honrar a mediunidade.

Médium da ajuda material, médium dos espíritos sofredores, médium dos bons espíritos auxiliadores, médium da caridade.

Ensina-me! Ensina-me Senhor! Ensina-me a ética da mediunidade!

Ensina-me!- suplico-Te- ensina-me ainda em minha mocidade, antes que eu me contamine - mais uma vez - com a  vulgaridade!

Atendeu Jesus aos negadores da mediunidade, mas no mundo, muitos ainda combatem a santa faculdade, corações sem piedade.

No seio do Espiritismo, os há, os negadores da mediunidade!

Proíbem ao jovem, ao velho e ao senhor de meia idade o contato natural com a sublime espiritualidade.

Criam cursos longuíssimos, complicações e dubiedades e assim afastam pessoas sinceras da libertadora prática da mediunidade.

Amigo acorda. É hora da verdade. É tua última chance, e se ainda quiseres negar a santa faculdade, terás o salário da maldade, triste negador da mediunidade. Muda, muda agora, a misericórdia te conduzirá a nobre faculdade.

Acolhe os jovens que se apresentem com justa maturidade, ajuda aos idosos que expressem sinceridade.

Foge de vez, de teu hábito de controle sem caridade. Porque se ainda fores, aquele negador da mediunidade, sairás da Terra, em breve, para viver em uma inferior Humanidade.

Apieda-te de ti, infeliz negador da sublime faculdade, negador da mediunidade!

Ama ao Cristo, serve sem dubiedade, a luz de Deus que vem através dos tempos pela sublime faculdade.

Assim o fazes e verás nascer em ti, onde antes havia angústia e infelicidade, a imorredoura claridade dos que servem a Caridade por meio da mediunidade.

 

Romildo, um arrependido negador da mediunidade.

 

***

 

Ivan orienta como atividade prática uma visita a Bocó Menfistófoles em uma das alas do Hospital Esperança. Ouviram os alunos sua triste história. Ele precisava falar para aliviar a consciência.

Felipe sai pensativo.

-  O que você tem, meu amigo? Pergunta Delanne.

-  Como o movimento está complicado... Comenta Felipe.

-  É verdade. Mais um motivo para nos dedicarmos mais. Eurípedes ensina que a maioria dos espíritas são bons cristãos, apenas precisam conhecer melhor Kardec para entender o Espiritismo. Os espíritas precisam orientar suas vidas segundo o Espiritismo e não apenas aceitá-lo como uma crença, uma religião formal. A Doutrina Espírita é uma escola espiritual que deve impulsionar o ser a plenitude da paz.

-  Conseguiremos? Digo, nós, o movimento espírita? Indaga Felipe com ar de pessimismo.

-  Não se impressione negativamente com Bocó ou com a turma de recuperação. São espíritos que faliram, mas que também podem acertar. Comenta Gabriel.

-  Eu me preocupo com o movimento e com a sociedade em geral. Fala Felipe.

Gabriel olha-o com sinceridade e fala.

 

 -  Meu amigo, respeito suas preocupações. Mas você está esquecendo que o Cristo comanda os destinos da Terra. Por ordem dele, Eurípedes irá guiar a Nova Geração. Se é verdade que o mundo não mudará a passe de mágica, também é certo que a partir de agora, a violência, o roubo, as doenças emocionais, da moda ou não, tem prazo para se extinguir. Não sabemos exatamente quanto esforço isso nos custará, mas a Terra será em algumas décadas um mundo bem melhor. Após um pausa continua. Meu amigo, o Cristo tem condições, inclusive, de convocar espíritos evoluídos de outros mundos, se julgar necessário. Essa batalha está vencida. Feliz o espírita que se sacrificar pela obra do Cristo! Esse herdará a Terra. Conclui Gabriel.

Felipe está impressionado. Nunca pensou nessa capacidade do Cristo em convocar trabalhadores de mundos evoluídos.

-  Então tudo vai dar certo! Exclama Felipe espontaneamente.

-  Nunca pode dá errado. Responde Gabriel ao observar que Felipe o entendeu. E continua. O que para muitos, no mundo, pode parecer impotência de nosso dirigente máximo é, na verdade, misericórdia. Ele aguarda que os irmãos rebeldes se transformem, mas é preciso dizer, a espera está perto do fim.

  Felipe acorda com perfeita lembrança desse último diálogo.

Como o Cristo é grandioso. Pensa e faz sua prece e leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo para iniciar o dia de forma equilibrada.

 

 

 

 

Capítulo III

Swedenborg - Precursor da Mediunidade

 

 

Patrícia e José estão sentados à mesa com um dos precursores do Espiritismo, Emanuel Swedenborg. Todos aguardam em silêncio.

Após a prece de José, Patrícia inicia.

- Considerado o homem mais cultos do seu século, Emanuel Swedenborg, conhecia física, química, astronomia, zoologia, anatomia, metalurgia e economia, teologia além de muitos outros ramos das ciências. Ele irá compartilhar conosco suas experiências mediúnicas que ocorreram entre 1741 e 1772. Certamente, todos devem ter lido o relato que ele fez a Allan Kardec e que consta na Revista Espírita ano e mês.

Segue o relato da Revista Espírita de Allan Kardec, para você, amigo leitor. No final do livro colocamos o relato completo. Inclusive, a entrevista de Allan Kardec com Emmanuel Swedenborg.

 

"Eu estava em Londres, onde jantei muito tarde, em minha estalagem ordinária, onde reservara um quarto para ter a liberdade de nele meditar à vontade. Sentia-me pressionado pela fome e comi com bom apetite. No fim do repasto, percebi que uma espécie de nevoeiro se derramava sobre os meus olhos, e vi o soalho de meu quarto coberto de répteis horrendos, tais como serpentes, sapos, lagartas e outros; fui tomado, tanto mais que as trevas aumentavam, mas logo elas se dissiparam; então vi claramente um homem no meio de uma luz viva e radiante, sentado num canto do quarto; os répteis haviam desaparecido com as trevas. Eu estava só: julgai o pavor que se apoderou de mim, quando o ouvi pronunciar distintamente, mas com um tom de voz bem capaz de imprimir o terror "Não coma tanto!"A essas palavras, minha vista se obscureceu, mas se restabeleceu, pouco a pouco, e vi-me só no meu quarto. Ainda um pouco assustado com tudo o que vira, retornei com pressa à minha casa, sem dizer nada a ninguém do que me tinha acontecido. Ali, entreguei-me às minhas reflexões, e não concebi que isso fora o efeito do acaso ou de alguma causa física.

Na noite seguinte, o mesmo homem, radiante de luz, se apresentou ainda diante de mim e me disse: “Eu sou Deus, o Senhor, criador e redentor: eu te escolhi para explicar aos homens o sentido interior e espiritual da Escritura Santa; eu te ditarei o que deves escrever.

 

 

 

Dessa vez, não fiquei muito assustado, e a luz, embora viva e resplandecente, da qual estava cercado, não produziu nenhuma impressão dolorosa sobre os meus olhos; ele estava vestido de púrpura, e a visão durou um bom quarto de hora. Nessa mesma noite os olhos do meu homem interior foram abertos e dispostos para verem no céu, no mundo dos Espíritos e nos infernos, e encontrei, por toda parte, várias pessoas de meu conhecimento, algumas mortas há muito tempo, outras há pouco. Desde esse dia renunciei a todas as ocupações mundanas para não trabalhar senão nas coisas espirituais, para me conformar à ordem que para isso recebera. Freqüentemente, ocorreu-me na continuação, ver os olhos do meu Espírito abertos, e de ver em pleno dia o que se passava no outro mundo, de falar aos Anjos e aos Espíritos como falo aos homens.”

***

 

Swedenborg levanta-se e afirma. Sintam-se a vontade para questionar as minhas experiências. Somente conversando com franqueza e amizade é que poderemos aprender uns com os outros.

- Era mesmo Deus que se comunicou com o senhor quando estava encarnado? Pergunta Rivalina.

- Certamente, não. Se na época dos profetas era aceitável crer-se que quem se comunicava era Deus, no século XVIII, eu deveria saber que não era, mas eu aceitei por vaidade.

- Então era um espírito mistificador? Pergunta Astrobrito.

- Na verdade, não. Ele identificou-se como Deus para que eu tivesse mais fé. Era um espírito que queria me ajudar, mas tinha uma evolução limitada, apesar de ser honesto. Esse é o motivo central dos erros de minha doutrina: acreditei no que vi, no que imaginei e no que me foi revelado sem nenhum critério de lógica e de pesquisa. Apesar de minha extensa formação científica não apliquei nenhum método para avaliar as comunicações. Essa foi a grande diferença entre mim e Allan Kardec. Ele estabeleceu um método lúcido e científico para analisar as comunicações. Sem método cheguei a acreditar que era infalível. Por isso, penso que simbolizei a transição do mediunismo para a mediunidade espírita que surgiria 100 anos depois de minhas experiências. Somente com a Escala Espírita é que podemos entender que os espíritos não se classificam apenas em bons e maus ou anjos e demônios. Existe uma imensa diversidade de personalidade no mundo espiritual, é preciso entender isso.

- Como o senhor recebeu a maioria das revelações espirituais? Questiona Romildo.

- Eu entrava em estado de êxtase, espécie de desdobramento, e descrevia o que via, mas como não tinha um método de avaliação, juntava, sem consciência, o que via e o que achava que tinha visto em uma interpretação sem critério. O desdobramento, mais até do que as outras faculdades mediúnicas, permite uma grande participação da imaginação, por isso, o método de verificação é indispensável.

- Quais os aspectos mais positivos o senhor avalia de seu trabalho? Pergunta Eclésio.

- Como era conhecido internacionalmente, pude provar a verdade dos fenômenos mediúnicos para muitos reis, rainhas e inclusive para o filósofo Kant. A convicção sobre a realidade espiritual é essencial para a espiritualização do ser. A dúvida sobre a realidade espiritual, mesmo que sutil, é um empecilho terrível para a conquista da paz verdadeira e nos induz a muitos desequilíbrios morais.

- Que lição o senhor nos deixaria? Estimula Patrícia.

- Vivi em uma época em que os fenômenos mediúnicos ainda não tinham sido estudados por Allan Kardec. Isso foi uma enorme desvantagem para mim. Após estabelecido o método seguro de Allan Kardec, deve-se avançar nas pesquisas mediúnicas de forma equilibrada e profunda. Não é aceitável que os seguidores de Allan Kardec adorem médiuns como se eles fossem especiais. Não! Os que fazem isso os ajudam a se iludir e os empurram para o precipício. Posso falar a partir da minha experiência e do conhecimento da Codificação Espírita, que hoje estudo com afinco: médiuns que aceitam adoração e adoradores tornam-se verdadeiros traidores do Consolador. A época das revelações pessoais já passou. Foram úteis e importantes, mas os que hoje querem ser especiais estão distantes da Codificação, estão condenados a conviverem com os seres inferiores da espiritualidade por escolha própria.  

Dito isso, ele retira do bolso um exemplar de O Livro dos Espíritos, abre-o no Livro Segundo, Capítulo I, no Item VI, e diz apontando para o livro.

-  Se eu tivesse tido acesso apenas a essas páginas que expressam a Escala Espírita minha história teria sido muito superior. Permitam-me fazer uma breve exposição, pois estou certo que em outro momento vocês terão um estudo aprofundado da Escala Espírita.

 

 

 

 

- Existem apenas dois critérios, e apenas dois,  definidos por Allan Kardec para caracterizar a evolução de um espírito. É essencial entender isso. Os critérios são: evolução moral, que é o mesmo que evolução emocional, e evolução intelectual. Assusto-me ao ver espíritas que, consciente ou inconscientemente, criam vários critérios para avaliar a evolução de um espírito encarnado ou desencarnado. Por exemplo, muitos falam da alimentação como falou o espírito que se comunicou comigo.

- Mas se alimentar de forma saudável não é prova de evolução? Indaga Rivalina.

- Não! Diz Swedenborg de forma firme. Claro que não. Alimentação saudável é um bom hábito que deve ser cultivado, mas não significa evolução. Preste atenção, apenas existe dois critérios: evolução moral e intelectual. O resto pode ser importante, mas NÃO caracteriza a evolução de um indivíduo. Todos sabemos da importância dos exercícios físicos, mas fazer exercício físico não comprova a evolução do espírito nem escovar os dentes antes de dormir, embora seja importante. Conclui com bom-humor.

Todos riem.

- Existe uma opinião comum de que a alimentação revela a evolução. Você poderia nos esclarecer um pouco mais? Indaga Eclésio.

- O mais curioso é ver que as pessoas que defendem essas teses pensam estar inovando. Fala Swedenborg.

- E não estão? Sempre pensei que essas informações são uma nova revelação? Pergunta Eclésio.

- Não, caro amigo. A discussão sobre alimentos puros e impuros, sobre alimentos que devem ser consumidos e os que não devem ser consumidos data de milênios antes do Cristo, está bem longe de ser uma novidade! Era uma questão séria para os fariseus, mas não para Jesus. O Mestre alertava aos discípulos vindos do judaísmo, ousas chamar de impuro o que Deus criou!

- Então não devemos nos preocupar com a alimentação? Pergunta Astrobrito.

- Devemos nos preocupar, certamente. O que não podemos é nos iludir ou fingir que somos evoluídos por ter determinada dieta. Afinal, não é o que entra pela boca que torna o homem impuro. Já ouviram falar isso? Responde mais uma vez citando Jesus e continua.

 

 

 

 

 

- Observemos a Escala Espírita e teremos a certeza de que não é a fama, a forma de falar, de se vestir, o cargo, o tipo de voz, o penteado, o tipo de alimentação, de maquiagem, de perfume ou de exercício físico que caracteriza a evolução do espírito. O critério é simples, é o critério intelecto-moral. O resto é ilusão ou como ensina o Eclesiastes: é vaidade, tudo vaidade! Sua forma sincera de falar contagia a todos. Após pequena pausa, continua.

- Allan Kardec organiza três grupos ou ordens evolutivas. A terceira ordem dos espíritos imperfeitos ou atrasados; a segunda ordem dos bons espíritos; a primeira ordem dos espíritos puros.

- Você poderia nos dar exemplos de espíritos dessas ordens? Pede Eclésio.

- Não é fácil citar indivíduos, pois o objetivo de Kardec foi principalmente nos auxiliar a entender a imensa variedade da evolução dos seres humanos, por isso, apenas como explicação didática posso citar alguns exemplos e desde já afirmo que pode haver alguma discordância sobre meus exemplos. Citarei alguns nomes apenas como ilustração e não como uma verdade inquestionável.

Swedenborg olha para Patrícia, pois sabe que seria importante ilustrar sua explicação com nome conhecidos, mas que isso poderia gerar polêmicas estéreis como é frequente entre espíritos atrasados. Patrícia acena positivamente apoiando sua intenção, afinal, precisamos aprender a conversar, debater, discordar sem odiar.

Emanuel Swedenborg sorri feliz com a liberdade e a confiança que lhe é concedida, inicia.

- A terceira ordem com já disse é o grupo dos espíritos inferiores ou IMPERFEITOS, mas é preciso entender que entre os espíritos que cultivam as paixões da animalidade como o orgulho, o egoísmo, os vícios e a sensualidade existem imensas diferenças. A ordem dos imperfeitos tem cinco divisões. Irei explicar dando exemplos.

 

 

espíritos impuros. Entendo como espíritos impuros, segundo o termo do Codificador, os espíritos dedicados conscientemente ao mal. São espíritos inteligentes, que podem ser líderes, cientistas e sacerdotes voltados para o mal que utilizam suas capacidades para dominar e massacrar os espíritos que optaram pela fraqueza. São os líderes políticos e culturais das trevas estejam encarnados ou desencarnados. No mundo da matéria densa, os líderes nazistas são um dos exemplos históricos. Na atualidade, são aqueles que dirigem o comércio de armas, de drogas ou que geram as grandes catástrofes financeiras que prejudicam a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Vinculam-se aos mais degradantes vícios e tem ódio ao ser humano e ao bem. No mundo espiritual, além dessas atividades, presidem cidades em que vivem os espíritos que optaram pela animalidade e combatem todas as atividades que podem espiritualizar o ser humano e, em particular, a mediunidade cristã. Incentivam a discórdia, o desequilíbrio e a sensualidade para afastar o indivíduo do caminho divino. Bocó Menfistófoles, conhecido de vocês, é um exemplo desses espíritos. Muitos são socorridos em reuniões mediúnicas sérias e bem orientados do movimento espírita encarnado, o que exige preparo e dedicação do grupo mediúnico como um todo.

espíritos levianos. São espíritos irresponsáveis e zombeteiros que se divertem gerando aborrecimentos e enganando as pessoas ingênuas com previsões falsas ou com meias verdades. São mais irresponsáveis do que maus. Quando encarnados, desejam apenas “aproveitar a vida” sem se preocupar com os outros nem com suas obrigações. No mundo espiritual, vinculam-se aqueles que têm seus gostos e utilizam-se de médiuns, que não entenderem que a mediunidade é uma faculdade sagrada, como adivinhos e até médiuns espíritas que usam a mediunidade para se promover e não para servir.

pseudo-sábios.Podemos defini-los como sábios arrogantes que não admitem suas limitações e, por isso, apesar de terem muito conhecimento, ensinam verdades e erros absurdos. Podemos identificá-los por seus preconceitos e pela presunção de serem “os donos da verdade”. Quando encarnados, muitos afirmam ser a reencarnação de espíritos elevados como Jesus de Nazaré e Allan Kardec. São facilmente desmascarados por não apresentar as virtudes e a sabedoria dos espíritos que dizem ser.

espíritos neutros.Se caracterizam pela acomodação, não são bastante bons para fazerem o bem nem bastante ativos para fazerem o mal. São os voluntariamente inúteis.

 

 

BATEDORES. Como afirma o codificador não são propriamente um grupo, mas são os espíritos que atuam mais diretamente na matéria. Auxiliam os espíritos mais evoluídos na condução dos fenômenos naturais e nos efeitos físicos.

Obviamente, todos evoluem e desde que queiram podem se tornar úteis aceitando a orientação dos espíritos superiores.

- Perguntas?

- Como existem tipos diferentes de espíritos! Exclama Rivalina.

- É verdade. Graças à sabedoria de Kardec, que adotou o critério intelectual e moral, tudo ficou mais fácil de compreender, sem isso nunca teríamos uma visão ampla da multimilenar evolução do ser humano. Comenta Patrícia.

Continua Swedenborg.

- A segunda ordem exigirá de nós atenção redobrada. Espero exemplificar de forma adequada, caso não consiga, peço a compreensão de vocês. Esse ordem tem quatro divisões.

espíritos benevolentes. São as pessoas boas que todos conhecemos. Tem sempre satisfação em ajudar e amparar, mas têm o saber limitado. Todos já tivemos a oportunidade de conviver com um espírito dessa classe.

espíritos sábios. São os estudiosos equilibrados. São os intelectuais, cientistas libertos das paixões inferiores, mas que ainda não desenvolveram um grande amor pela Humanidade. Os exemplos são comuns no mundo da matéria densa, bem como sua atuação no movimento espírita como desencarnados, são médicos, escritores, entre outros.

espíritos prudentes. São os espíritos sábios ou estudiosos que desenvolveram a verdadeira humildade e o amplo amor pela humanidade. Podemos citar como exemplo alguns pretos velhos que conheço que unem amplo conhecimento e elevado sentimento.

Astrobrito assusta-se ao ouvir a palavra preto velho e pergunta.

- Quer dizer então todos os pretos velhos são espíritos dessa ordem?!

Swedenborg, como se esperasse essa reação fala.

- Eu disse alguns. Se o tipo de alimentação, de penteado ou o cargo social não define a evolução, a forma de se apresentar também não define. Afinal tanto tem preto velho como branco novo evoluído e atrasado!

Rimos.

 

 

 

 

- Mas como pode um preto velho ter imensos conhecimentos científicos? Pergunta Rivalina.

- Reencarnação. Diz Swedenborg. Tenho um amigo preto velho que domina com muito mais profundidade a ciência médica e o magnetismo do que eu. Ele foi um grande cientista que optou por reencarnar como escravo no Brasil. Após seu desencarne, decidiu apresentar-se como preto velho aos espíritas para ajudá-los a superar os seus preconceitos, ensinando-os, na prática, que o critério é intelectual e moral e não racial.

- Você poderia dar outros exemplos? Romildo.

- Sim. Para facilitar a compreensão citarei alguns nomes conhecidos do movimento espírita. No Brasil, posso citar Cairbar Schutel, o grande divulgador do Espiritismo e profundo estudioso do Novo Testamento, e José Herculano Pires que segundo Emmanuel foi o pensador que melhor entendeu Kardec.

Que alegria poder conviver com José e Cairbar! E como eles são amigos. Pensa Felipe.

espíritos superiores. Eles se caracterizam pela elevadíssima condição intelectual e moral. Compreendem em profundidade as leis da ciência e amam abnegadamente a humanidade. Sua linguagem frequentemente é sublime. Os exemplos são muitos, o que prova a misericórdia de Deus em relação aos homens. Citarei alguns: Sócrates, o filósofo grego; Francisco de Assis, Antônio da Pádua e Vicente de Paulo, santos católicos; Gandhi líder político e religioso hindu; Eurípedes Barsanulfo e Bezerra de Menezes dirigentes do movimento espírita.  

A primeira ordem é a mais fácil de explicar e a mais difícil de atingir. A primeira ordem tem como símbolo máximo, Jesus de Nazaré. São os puros espíritos também conhecidos como anjos. Eles têm um domínio total da matéria, são os mensageiros diretos de Deus no universo. Eles compreendem a Deus.

Swedenborg silencia. Vemos que está emocionado. Ele irradia belíssima luz que nos sensibilizava. Ele olha para cada um nos olhos e conclui com voz firme a vibrante. Allan Kardec foi um dos mais elevados enviados de Deus ao mundo, escutai-o! Ele vos apresenta Deus e o Cristo de forma sublime para todos que querem ter olhos para ver a Verdade.

Estamos emocionados. A lição é sublime. Os integrantes do grupo de recuperação, ninguém havia tinha ainda entendido a importância da Escala Espírita. Agora, conhecem sua importância e começam a entender a grandeza do amado codificador.

Patrícia agradece a Emanuel Swedenborg e fala que ele continuou desde seu desencarne a auxiliar a mediunidade, inclusive ajudou outro precursor da mediunidade espírita: André Jackson Davis, o maior médium norte-americano do século XIX.

Swedenborg despede-se e parte.

A Dinâmica Relacional, realizada em conjunto, teve o objetivo de relacionar as lições aprendidas com uma experiência mediúnica vivenciada após o desencarne.

 Eclésio começa.

- É interessante ver que têm muitos de nosso movimento que acham que os desencarnados são espíritos superiores ou impuros. Eles, como Swedenborg no século XVIII, não entendem que existe a Escala Espírita e que existem muitos espíritos que não são superiores nem impuros. Certa vez, em um grupo mediúnico, falei sobre importância de se evitar os vícios do álcool e do cigarro. Falei como eu sou: sem uma vibração superior, mas também sem mentir. Falei com ênfase e entusiasmo, porque tinha vivido esse problema e tento me recuperar auxiliando. No final da reunião, foi um desencontro! Como eu não era nem Bezerra de Menezes nem o Bocó Menfistófoles, recebi o nome de mistificador! Um disse: espírito bom sempre fala manso! Será que vou ter entrar para um coral para ser ouvido?!

Todos riem.

- Porque é tão difícil entender que sou apenas um espírito parecido com a maioria dos seres humanos! Eles me rejeitam como eu rejeitava as mensagens que vinha para mim. Conclui Eclésio.

Rivalina fala.

- Frequento uma reunião mediúnica de um grande centro espírita que é dirigida pelo presidente da instituição.  Eles têm muitas regras não espíritas: não podem entrar jovens, tem de ter tantos anos de curso mediúnico, já pré-estabelecido, para todo mundo e muita teoria sem prática. Em uma ocasião, o mentor do centro pediu ajuda a um espírito muito evoluído, um preto velho, para socorrer a situação aflitiva do filho do dirigente do centro. Eu pude acompanhar essas tarefas. Foram meses de trabalhos intensos. Ao final, evitou-se o suicídio do jovem e este iniciou hábitos mais saudáveis, inclusive o da oração. No último dia dessa tarefa, o mentor da casa pediu que o preto velho pronunciasse alguns conselhos para o grupo e, em particular, para o dirigente. Ao apresentar-se, o dirigente irritou-se. O amigo espiritual ia começar a falar, quando foi interrompido pelo presidente que disse rispidamente: meu irmão, seu lugar não é aqui. Procure um terreiro e não volte! Eu mal podia acreditar. Essa foi a “recompensa” que esse espírito teve por salvar-lhe o filho. Depois, conversando com essa elevada entidade, perguntei por que ele se apresentava como preto velho. Ele simplesmente disse: minha filha, Deus quer que os homens aprendam a julgar com amor e lucidez e não pela aparência. Se dissesse quem fui, no passado, seria adorado, mas eles continuariam infantis e vaidosos.

Talvez com a repetição dessas experiências, eles amadureçam, disse o preto velho. Foi uma tremenda lição para os meus preconceitos. Finaliza Rivalina.

Foi a vez de Astrobrito.

- Em uma reunião mediúnica que tive a oportunidade de me comunicar falei da obra de Léon Denis, seguindo a orientação do espírito guia da instituição. Acho que falei bem, todos gostaram, mas a partir daí minha vida ficou difícil. Começaram a me adorar de tal maneira que eu não tinha paz! Todo mundo queria que eu ensinasse tudo e resolvesse os problemas de todos! Coitado de mim, eles pensaram que eu era Denis ou Deus! Diz desabafando de forma engraçada... Deus me livre, é pedido que não acaba mais, e o pior é que são problemas que cabem a eles resolver. Veja se eu posso ajudar um grupo entender o Espiritismo sem que eles estudem! Aí entendi a lição: eu, quando encarnado, que só queria estudar fui colocado para ajudar aqueles que só queriam saber de prática sem o estudo. Temos muito a aprender uns com os outros... Conclui.

- Minha experiência foi na reunião mediúnica que criei, começa Romildo. Autoritário que fui, infelizmente, fiz escola e provei do veneno do autoritarismo que espalhei. Todos me adoravam e, coitado de mim, apresentei-me como de fato sou! Fui repelido grosseiramente, nem sequer se deram o trabalho de examinar minha identidade com critério. Como não elogiei ninguém nem tomei aparências de evoluído, fui desconsiderado e expulso. Era assim que fazia.

Com expressão arte-cultural Patrícia solicita a criação de uma mensagem que será psicografada por jovem médium. O grupo elegeu a redação do Eclésio, peço que vocês avaliem.

 

 

 “Jovem amigo,

 

 

Fui no mundo espírita e não sabia nada do real valor do Espiritismo. Amigo! Aproveita a oportunidade de hoje. Não precisas mais do tóxico dos vícios nem dos desequilíbrios das mentes doentias ligadas ao sexo desregrado. Sei que não és santo, muito menos eu, mas pensa e pensa muito, porque a tristeza de se sentir fracassado e deprimido após o término das loucuras é terrível. Usa muito bem tuas energias e conhecerás cidades espirituais de beleza indescritível.

 A vida na Terra é tão breve e tão preciosa! Peço-te: aproveita a oportunidade que ela é única e intransferível. Assume todas as tuas responsabilidades, ninguém irá exercê-las por ti. Se tu fores um discípulo do bem, irás beneficiar a todos que você ama, nesta encarnação e na vida espiritual.”

                        

 

Eclésio.

 

 

A pedido de Patrícia, Romildo faz a prece de encerramento.

Como vivência prática, todos vão visitar as enfermarias que acolhem os espíritas que não vivenciaram a mediunidade eticamente.

Felipe não alimentou mais o pessimismo. Entendeu, os espíritas que fracassam merecem misericórdia e amparo. A obra do Cristo segue adiante e os que nela não se integram são dignos de compaixão, porque não poderão desfrutar a vida em uma sociedade superior.

 

 

 

 

Capítulo IV

O Início da Profecia

 

 

  Felipe acorda com uma lembrança quase completa da aula. Salta da cama, abre o computador e vai ler a Escala Espírita. Que interessante, nunca teria descoberto o valor dela sem a aula. Será que todos os espíritas entendem isso? Pensa.

Começa a sentir necessidade de ter uma prática mediúnica em grupo. Tem se preparado conforme as orientações de pai Joaquim e da Codificação. Está ansioso para começar a psicografar.  Na verdade, o que gostaria mesmo era ter um grupo de amigos de estudo e prática do Espiritismo. Fica Feliz ao lembrar de Gabriel. Será que vai demorar muito até que se encontrem e iniciarem? Mal posso esperar. Pensa.

O domingo está ensolarado. Felipe resolve arrumar o quarto e sair para visitar algum amigo. Lembra de Avelino. Manda uma mensagem. Nada de resposta. Liga. Caixa postal. Deve estar dormindo. Após terminar a arrumação do quarto, o celular de Felipe toca, é Avelino.

-  Quer vir aqui para casa hoje a tarde? Pergunta Avelino.

-  Vou. O que faremos? Indaga Felipe.

-  Aqui vemos. Tens uns filmes legais, ação e terror. E muitos livros que baixei da internet, quero te mostrar. Alguns falam sobre a vida em outros mundos. Explica Avelino.

-  Que horas? Pergunta Felipe.

-  Duas... Duas e meia? Tá bom. Fala Avelino.

-  Combinado.

Que bom! Um amigo para conversar sobre Espiritismo. Pensa Felipe.

Felipe chega a casa de Avelino. Empolgado Avelino mostra, na tela do computador, as centenas de livro que baixou da internet.

-  O que você acha? Pergunta empolgado.

-  É fantástico! A internet é excelente aliada do Espiritismo. Comenta Felipe.

-  Será que são todos bons? Pergunta Avelino.

-  Certamente não. Deve ter também aqueles que dizem muita besteira. Diz Felipe.

-  Mas, por que você diz isso? E como saber o que presta ou não? Avelino está sem entender.

Felipe dá-se conta do quanto é valiosa a Escala Espírita e com calma explica.

-  Avelino, existe espírito de todo tipo, os espíritos são como as pessoas. Uns são bons outros maus, alguns são sábios e tem muito a nos ensinar outros ensinam o que não sabem ou mesmo mentem descaradamente. Espírito é igual gente.

-  Nunca pensei que fosse assim. Achei que quem tivesse morrido sabia das coisas. Comenta o amigo.

Felipe vai até a prateleira, pego O Livro dos Espíritos e mostra para Felipe a perguntas 96 a 99.

 

96. Os Espíritos são todos iguais, ou existe entre eles alguma hierarquia?

-- São de diferentes ordens, segundo o grau de perfeição a que tenham chegado.

 

97. Há um número determinado de ordens ou de graus de perfeição entre os Espíritos?

-- É ilimitado o número dessas ordens, pois não há entre elas uma linha de demarcação, traçada como barreira, de maneira que se podem multiplicar ou restringir as divisões, à vontade. Não obstante, se considerarmos os caracteres gerais, poderemos reduzi-las a três ordens principais.

Na primeira ordem, podemos colocar os que já chegaram a perfeição os Espíritos puros. Na segunda, estão os que chegaram ao meio da escala, o desejo do bem é a sua preocupação.

Na terceira, os que estão ainda na base da escala, os Espíritos imperfeitos, que se caracterizam pela ignorância, o desejo do mal e todas as más paixões que lhes retardam o desenvolvimento.

 

98. Os Espíritos da segunda ordem só têm o desejo do bem; terão também o poder de o fazer?

-- Eles têm esse poder, de acordo com o grau de sua perfeição, uns possuem a ciência; outros a sabedoria e a bondade. Todos, entretanto, ainda têm provas a sofrer.

 

99. Os Espíritos da terceira ordem são todos essencialmente maus?

-- Não, uns não fazem bem nem mal, outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo. Há ainda Espíritos levianos ou estouvados, mais travessos do que malignos, que se comprazem mais na malícia do que na maldade, encontrando prazer em mistificar e causar pequenas contrariedades, das quais se riem.

Felipe lê e explica para Avelino, que nunca imaginara que existisse explicações tão detalhadas sobre a evolução dos espíritos conseguidas conversando com os próprios espíritos!

-  Parece que o menino aprendeu direito com os professores do Colégio Allan Kardec. Comenta Aureliano ao ver seu protegido sendo esclarecido sobre tão profundas verdades espirituais da forma correta.

-  Eles vão longe. Responde pai Joaquim.

Depois de conversarem por quase uma hora, vão lanchar e assistir um filme.

-  Espírita pode ver filme não espírita? Pergunta Avelino.

-  Claro. Espiritismo não é religião como as outras. É uma filosofia que nos ensina a viver e nos dá liberdade de escolha... Terror ou ação? Pergunta Felipe para encurtar a conversa.

-  Assistir filme de terror não é proibido? Pergunta Avelino.

-  Proibido não. Você é que tem que avaliar se o filme lhe faz bem ou não. No Espiritismo, as regras exteriores são consideradas de pouca importância. É a moral íntima que importa e a liberdade de escolher. Isso serve também para alimentação. Explica Felipe ao se lembrar de Swedenborg.

-  Legal. Prefiro ação. Veja esse aqui... Asoka. Fala Avelino.

-  Vamos ver. Não conheço, mas parece bom. Fala Felipe.

***

Felipe chega em sua casa às seis horas. Foi um ótimo dia. Avelino está realmente interessado em conhecer e viver a Doutrina Espírita. Vai tomar banho e se organizar para cumprir seu programa de preparação espiritual, como ele chama.  

Adormece pensando sobre Avelino. onde estaria o amigo? Espero que não esteja em uma região inferior do mundo espiritual sofrendo tormentos terríveis... Mal sai do corpo, é abraçado por Aureliano.

-  Amigo, vim apenas para lhe agradecer o que fez hoje por Avelino. Com a compreensão da Escala Espírita ele poderá me entender melhor.

-  Eu é que agradeço por me aproximar de um amigo. Diz Felipe.

Abraçam-se. Aureliano o transporta instantaneamente a entrado do colégio e desaparece. Que carona legal, pensa Felipe, que agora não se assusta tanto com fatos “novos” como aquele. Entra. Passeia no jardim. Sobe até a sala. O mal-estar adquire nova forma. Durante o percurso do terceiro para o quarto andar, Felipe começa a lembrar cenas tristes de sua infância, cenas que preferia esquecer. Faz uma prece e prossegue, já aprendeu que, se não fugir, tudo dá certo. Vê cenas que o entristecem, chega a sala com lágrimas nos olhos. Procura Gabriel e vê em silêncio em um lugar sem cadeira vazias próximas. Resolve sentar no fundo a sala e orar. O choro aumenta, ora com mais fervor e sintoniza com pai Joaquim que lhe explica.

-  Meu filho, não devemos fugir das experiências tristes do passado. Permita-se lembrar e um dia essas lembranças não trarão mais tristeza ao teu coração.

-  Mas, eu prefiro não lembrar. Responde pelo pensamento.

-  Lembrando ou não eles vão te fazer triste. Eles enfraquecem tua vontade e roubam tua paz. Aceitá-las é a única forma de alcançar um equilíbrio superior.

-  Mas, dói muito! Diz Felipe.

-  Por isso, crescer espiritualmente é para os verdadeiramente forte, meu filho. Confia sempre em Deus.

-  E se eu não for forte? Pergunta Felipe um pouco desesperado.

-  Peça a Jesus forças e ele te dará com toda certeza. Ele é forte e generoso, meu filho. Prepara-te para a aula. Faltam quinze minutos.

-  Obrigado. Fala Felipe mais confortado. Afinal, Jesus tem coragem suficiente e pode ajudá-lo. Pensa ao se despedir de seu guia.

-  É verdade. Responde pai Joaquim.

 

***

 

- Está é nossa última aula do curso. Os aprovados poderão estudar sobre o Espiritismo no Colégio Allan Kardec. Como sabeis, isso significa muito e é um grande compromisso. Para os que o traíram o Consolador é o símbolo da recuperação, do renascimento emocional. Para os que atuam no movimento, é oportunidade de ampliar a compreensão do Espiritismo e o estímulo para germinação do bem no coração. Explica Patrícia após a prece inicial.

- André Jackson Davis é o continuador de Emanuel Swedenborg e o médium que anuncia a instituição dos fenômenos mediúnicos como uma prática regular e diária na Nova Era.

Abre-se imensa tela. É uma deslumbrante pintura  do encontro de André Jackson Davis com Emanuel Swedenborg e Claudius Galeno. Swebendorg nos conhecemos; Galeno foi médico e filósofo no século II. O encontro acontece nos Estados Unidos, em 1844, cem anos depois do despertar mediúnico de Swedenborg. Em seguida, vemos outra pintura que retrata o despertar de Jackson Davis, que tinha 17 anos, em sua pobre casa no interior dos Estados Unidos.

- Os fenômenos aqui apresentados ocorreram no início da primeira expansão da mediunidade no mundo após o cristianismo. A mediunidade foi restrita durante a idade medieval pelos interesses inferiores como estudamos. O século XIX é a primeira etapa da democratização da mediunidade no mundo. Inicia-se o cumprimento da promessa do Cristo do envio do Consolador e da espiritualização dos habitantes do planeta. Todos que quiserem espiritualizar-se, jovens e velhos; cultos e incultos; ricos e pobres; terão o amparo dos bons espíritos.  Neste momento, estamos nos preparando para a segunda grande expansão da mediunidade, isso exigirá muita responsabilidade e devoção dos espíritas-cristãos. Deverão todos aprender a lidar diariamente com a mediunidade. Explica Patrícia e pergunta.

- O que chamou a atenção de vocês nessas cenas?

- A idade de Davis e das meninas Fox. Responde Rivalina e pergunta em seguida.

- Sempre penso que pode ser perigoso jovens serem médiuns, não é?

- O que vocês acham? Pergunta Patrícia para o grupo.

- O maior perigo da encarnação é ficar longe de Deus e a mediunidade bem conduzida nos aproxima do Criador. Responde Gabriel, do quarto andar, telepaticamente para Patrícia que fala para o grupo do primeiro andar.

Patrícia continua.

- Não é mais perigoso expor crianças aos valores consumistas? Ensinar-lhes a lógica do desperdício e da destruição da natureza? Rivalina, somos todos espíritos imortais e tudo que nos distancie de Deus e de nosso equilíbrio espiritual é muito perigoso; tudo que nos aproxime de nossa essência e nos ensine a superar o egoísmo e o orgulho é de extrema importância. Fomos todos criados para nos tornarmos fortes e corajosos. Esse é o único caminho da felicidade.

Imaginem o espanto dos componentes do grupo - espíritas vaidosos que impuseram suas “normas” - ao ouvirem de Patrícia afirmar o quanto estavam errados.

Patrícia continua.

-   Davis é também um exemplo do quanto a mediunidade pode auxiliar o indivíduo a suportar os desafios da vida. Nasceu em uma família muito pobre, seu pai era alcoólatra e violento e sua mãe um pessoa que não sabia ler nem escrever, além de ser muito supersticiosa. Ele - até a juventude - tinha frequentado a escola apenas por seis meses, pois precisava trabalhar e ajudar em casa, além de viver mudando de cidade por causa das dificuldades criadas por seu pai. Aos onze anos, vivencia um extraordinário fenômeno mediúnico que é o início de suas vivencias mediúnicas ostensivas, aos dezessete tem o encontro com Swedenborg e Galeno. Sempre orientado por esses espíritos auxiliou muitas pessoas e foi capaz de organizar melhor sua vida. Auxiliar o indivíduo a compreender melhor a vida material e saber agir de forma equilibrada em tudo, é também função da mediunidade. Se Davis tivesse que esperar muitos anos para iniciar sua tarefa mediúnica, possivelmente, teria alimentado muitos desequilíbrios. Por isso, é tão grave quando pessoas arrogantes se acham no direito de determinar o padrão do desenvolvimento espiritual de outra pessoa.

-   Se pensarmos assim, como organizaremos um centro espírita? Deixaremos todo mundo entrar nas reuniões mediúnicas? Indaga Romildo entre espantado e constrangido.

-   Não. Responde Patrícia.

-   Como agir corretamente? Indaga mais uma vez.

-   Bom senso. Responde Patrícia.

-   Como estabelecer isso na prática? Pergunta novamente.

Patrícia olha-o com atenção e responde.

-   Meu amigo, quanto o movimento espírita está distante de Kardec! Faça como ele fez: converse com a pessoa, observe seu interesse, seus conhecimentos, seu real compromisso, na dúvida, dialogue com os amigos espirituais. É um trabalho de grupo que tanto encarnados e desencarnados podem contribuir. Cada caso é um caso. Toda vez que se tenta padronizar a mediunidade é uma traição aos valores do Cristo e a metodologia de Kardec. É preciso que os centros espíritas, como ensinou Allan Kardec, sejam formados por grupos harmônicos e integrados. Isso não é possível com um padronização tacanha e limitadora.

Romildo está espantado.

Astrobrito pergunta.

-   Mas como fazer isso em grandes instituições espíritas?

-   Qual a necessidade dos centros serem grandes instituições no aspecto numérico? A quem isso interessa? Ao Cristo, que teve poucos discípulos diretos? A Kardec, que sugeriu centros com vinte pessoas?

-   A vaidade, a ilusão de realizar grande obra. Fala Romildo.

-   Não somos contra nenhuma instituição da Terra que vise fazer o Bem, mas parece-nos que é mais fácil manter-se a harmonia em pequenos grupos do que em grandes grupos. A administração  também é mais simples e aqueles que amam a intriga não se sentem tentados a lutar por poder e cargos. Não é preciso poder material para servir ao Cristo, para realizar uma boa obra. Andrew Jackson Davis é mais um exemplo. No Brasil, temos também inúmeros exemplos, entre outros, Eurípedes Barsanulfo, Francisco Xavier, Yvonne Pereira.  É muito triste ver o tanto de tempo se gasta em brigas e intrigas em certos agrupamentos espíritas. Busca-se tudo menos servir ao Cristo. A vaidade é o motivo íntimo das ações. Grandes instituições  precisam de muitas normas, muitos “vigias”, muito dinheiro... Instituições espiritualmente grandes precisam de fraternidade, devoção, abnegação, quer dizer, esquecimento de si mesmo. Silencia Patrícia.

-  Por que Allan Kardec não deixou bem claro as complicações de termos centros espíritas com grandes aglomerações, orientando-nos a instituir pequenos grupo de fraternidade? Indaga Eclésio.

Patrícia olha-o com tristeza, pega O Livro dos Médiuns e lê o item  335.

 

335. Já vimos como é importante a uniformidade de sentimentos para obtenção de bons resultados. Essa uniformidade é naturalmente mais difícil de se obter quando o número de pessoas é maior. Nas pequenas reuniões, onde todos se conhecem melhor, tem-se mais segurança na introdução de elementos novos. O silêncio e a concentração tornam-se mais fáceis e tudo se passa como em família. As grandes assembléias não permitem a intimidade pela variedade de elementos de que se compõem. Exigem locais especiais, recursos pecuniários e um aparelhamento administrativo que os pequenos grupos dispensam. A divergência de caracteres, de idéias, de opiniões revela melhor, oferecendo aos Espíritos perturbadores mais facilitada para semear a discórdia. Quanto mais numerosa a reunião, mais difícil de se contentar a todos. Cada um quereria que os trabalhos fosse dirigidos a seu gosto, que fossem tratados de preferência os assuntos que mais lhe interessam, e alguns julgariam que o título de sócio lhe daria o direito de impor os seus pontos de vista. Daí surgiriam protestos, causas de mal-estar que levam cedo ou tarde à desunião e depois à dissolução, sorte de todas as sociedades de qualquer finalidade.

Os pequenos grupos não estão sujeitos a essas dificuldades. A queda de uma grande sociedade pareceria um insucesso para a causa espírita e seus inimigos não deixariam de explorá-la. A dissolução de um pequeno grupo passa despercebido, e se um se dispersa, vinte outros se formam a seguir. Ora, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais para a divulgação do que uma assembléia de trezentas a quatrocentas pessoas.

 

- Como questionar um explicação tão óbvia e tão simples? E como entender que esquecemos isso tão facilmente no atual movimento? A vaidade não é boa conselheira nem para a vida nem para a morte. Conclui Patrícia e questiona.

 

-  Qual a diferença entre Davis e Swedenborg?

- A superação da crença que os espíritos são infalíveis. Diz Astrobrito.

- Muito bem, continue. Incentiva.

- Ele superou essa crença, pois não acreditava que se comunicava com Deus, mas com espíritos, isto é, com individualidades como ele mesmo. Ele ensinava que os espíritos superiores devem ser nossos mestres e não nossos donos. Concluiu Astrobrito.

- Essa compreensão é um avanço histórico imenso. Compreender que os espíritos são indivíduos com diferentes graus de evolução e que os espíritos superiores não se ocupam em impor nem em dominar, é fundamental. Tão importante que leva Kardec, criar a Escala Espírita. Após um breve pausa, Patrícia continua.

- Davis era considerado fraco de corpo e de mente. Até os dezessete anos, tinha lido apenas um livro. Sua história é prova incontestável do poder da mediunidade e da imortalidade. Sua mediunidade evidencia-se aos onze anos. Depois de magnetizado, consegue vê os órgãos internos das pessoas e diagnostica as doenças; desdobra-se e vê as camadas geológicas da Terra.  Aos dezenove anos, publica seu primeiro livro com mais de 700 páginas – Filosofia Harmônica – um tratado filosófico e científico com a linguagem dos estudiosos de sua época. Davis foi examinado por centenas de autoridades científicas e religiosas. Dentre suas previsões, feitas em 1856, constam a invenção do automóvel, da máquina de escrever que ele descreve como um piano em que as teclas produzem letras e do avião. Na astronomia, descreve a descoberta de dois novos planetas: o primeiro, veio a se chamar Plutão, descoberto nove meses depois que ele falou, e o segundo Netuno, descoberto trinta anos depois. Ele era jovem e inculto, mas foi além de Swedenborg.  O que garantiu o êxito de sua tarefa? Pergunta Patrícia.

- O apoio de Galeno e Swedenborg, responde Eclésio.

- Sim, mas o que garante o apoio desses espíritos foi sua conduta moral. Acrescenta Romildo.

- Exatamente. Jackson Davis era honrado, simples e incorruptível. Além de verdadeiramente caridoso, sempre respeitoso com os que debatiam com ele. Foi acusado injustamente várias vezes e agia com muita tolerância não entrando na sintonia dos acusadores e preservando-se em paz. Sua moral foi sua proteção. O que liga Davis a Hydesville e as mesas girantes? Indaga Patrícia e, ante o silêncio de todos, responde.

- Davis escreve em seu diário uma nota que traz a data significativa de 31 de março de 1848: “Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, dizer: Irmão, um bom  trabalho foi começado — olha! Surgiu uma demonstração viva. Fiquei pensando  o  que  queria  dizer  semelhante  mensagem”. Foi neste exato dia que Hydesville se tornou um marco da renovação espiritual da Terra. Esse aviso é importante porque prova a coordenação do mundo espiritual em todo o processo da nova revelação. Foi por intermédio dos estudo das mesas girantes que o Espiritismo – o Consolador prometido pelo Cristo - chega ao mundo. A grande obra de Davis foi possível mesmo ele sendo pobre e com pouca instrução. Vejamos em O Livro dos Espíritos, na introdução e na questão 828a, o que assegura o amparo dos bons espíritos.

 

“Lembra-te de que os Bons Espíritos assistem aos que servem a Deus com humildade e desinteresse, e repudiam a qualquer que procure, no caminho do céu, um degrau para as coisas da Terra; eles se afastam dos orgulhosos e dos ambiciosos. O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira entre o homem e Deus; são um véu lançado sobre as claridades celestes e Deus não pode servir-se do cego para fazer compreender a luz".

 

828-a. Os princípios que professaram nesta vida lhes serão levados em conta na outra?

-- Quanto mais inteligência tenha o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo. Na verdade vos digo que o homem simples, mas sincero, está mais adiantado no caminho de Deus do que aquele que aparenta o que não é.

 

Patrícia propõe a Romildo e a Astrobrito que eles se permitam uma avalição mais profunda sobre o modelo inconsciente que eles tem de centro espírita. Ambos, embora um tanto constrangidos, aceitam. Sabem que não devem recuar mais uma vez...

Patrícia pede que sentem confortavelmente em poltronas que estão uma em frente a outra. Ela vai realizar um regressão simultânea. Todos nos concentramos. Ela aplica energias nos dois, depois de alguns minutos, fala de forma tranquila.

-  Lembrem-se da existência em que estiveram juntos.

Ninguém do grupo sabia disso. Todos pensavam estar reunidos pela primeira vez.

Patrícia continua.

Descrevam o que veem.

Romildo começa a descrever o que vem em sua mente.

Olho uma construção... Ele é belíssima, irei para o céu... Deus ficará muito feliz comigo. Apesar de meus erros, com essa obra grandiosa, alcançarei a salvação... Milhares de peregrinos irão orar aqui e eu terei o mérito de tudo... Deus vai me perdoar...

Nesse instante algo inusitado acontece. Astrobrito começa a dialogar com Romildo! É o diálogo que tiveram há mais de mil e quinhentos anos.

 

- Sim, minha santidade, seus erros são pequenos ante a grandeza desse templo.... Ah, como estou feliz por vossa santidade. Essa obra salvaria o próprio diabo da perdição se ele a realizasse! Diz, Astrobrito, bajulando o poderoso papa. Romildo sorri ao ouvir mais uma vez essas palavras ilusórias.

 

***

 

É nesse instante que Patrícia surpreende a todos ao pedir.

-   Avancem em suas recordações e lembrem em que condições vocês se encontraram no mundo espiritual.

-  Não! Grita Romildo com voz de pavor.

-  Lembre-se, somente assim você poderá iniciar sua cura emocional. Orienta Patrícia.

-  Maldito! Maldito! Grita Romildo como se estivesse falando com Astrobrito.

-  A culpa é sua, papa-demônio!!! Foi você quem mandou matar! Foi você!!!

-  Mas foi você o assassino! Maldito interesseiro! Responde Romildo.

 

***

 

A discussão dura cerca de quinze minutos, a troca de acusações parece interminável, quando Patrícia acalma-os e faz que direcionem suas memórias para o momento em que estão amparados pelos bons espíritos em uma cidade espiritual. Em particular, ela os induz a lembrar o diálogo que tiveram antes de reencarnar. Este aconteceu em um jardim.

-  Não irei mais buscar minha glória. Não quero mais alimentar minha vaidade por meio da religião, nem do poder político. Afirma Romildo.

-  Sinto muito mal por ter sempre elogiado os poderosos para obter vantagens para mim. Tenho esse vício do prestígio, por isso, sempre busco algum tipo de acordo: elogio para ganhar e ser socialmente respeitado...

-  No fundo, sempre temos muitos meios e desculpas para nos fazer adorar. Conclui Romildo.

***

 

Patrícia pede que retornem a seu estado normal, mantendo a lembrança de tudo que narraram. Depois do despertar de ambos, ela indaga, qual a relação entre a experiência que observamos e suas atitudes no movimento espírita?

-  Continuei querendo me glorificar com a desculpa de servir a uma causa maior. Explica Romildo.

-  Como você sentia quando encarnado? Pergunta Eclésio.

-  Sentia-me bem em ter uma “grande” obra.

-  Mas sua consciência não lhe avisava? Indaga mais uma vez Eclésio.

-  Sim, diz, baixa a cabeça e silencia. Ao lembrar da necessidade de aprofundar o autoconhecimento para evoluir, ele resolve continuar. Além de minha consciência, fui também avisado várias vezes por meu guia espiritual e pelos dirigentes do centro que fundei. Mas continuei... Minha sede em aparecer, em ser respeitado foi maior do que meu compromisso espiritual. Claro que sabia que números de frequentadores não garantem que estou agindo certo, mas... Mas o movimento espírita não pensa assim e por causa de minha vaidade e do apoio que sempre recebi, perdi preciosa encarnação. Todos admiram mais um presidente de um grande instituição do que o de uma pequena! Cegos, ainda somos cegos. Conclui chorando.

-  Astrobrito, qual foi seu engano? Pergunta Patrícia.

-  Não construí uma enorme obra material por vaidade como Romildo, mas construí uma enorme obra de vaidade. Construí minha fama! Formei um grupo de palestrantes e de dirigentes em que combinávamos para nos autopromover: nos elogiávamos uns aos outros, em todos os centros espíritas em que andávamos, com o objetivo da alcançar mais e mais fama! Sei o quanto isso parece ridículo, mas assim eu fiz e muitos outros também... É sempre bom ser aplaudido, bajulado... Fazer de conta que se é especial, que se sabe mais do que os outros... Maldito vício! Hoje, só tenho a tristeza de ter perdido mais uma preciosa chance.

Patrícia agradece a ambos e pede que voltem a seus lugares e comenta.

- Não teria sido melhor ter construído como Davis? Ao invés de templos da vaidade e de fama mentirosa, tivessem vocês investido em uma produção mediúnica séria ou em escritos espíritas verdadeiros ou no apoio a médiuns e estudiosos abnegados? A verdade está sempre dentro de nós, é preciso amá-la para que ela nos guie.

Patrícia faz a prece final. Todos sentem intensas vibrações, é Eurípedes que desdobrado vem dar sua palavra segura. O rosto de Patrícia se transfigura; todos o reconheceram.

 

 

 

 

 

 

- Vos felicito pela maturidade atingida. Estaremos todos reunidos daqui a um mês para estudar a chegada do Consolador no mundo! Conto com todos vós no auxílio aos espíritas atendidos em nosso hospital. É preciso que ajudem e vejam quantas misérias morais nos que não honram a mediunidade, pois em breve devereis alertar a todo o movimento espírita. O momento é de renovação! Aguardo vocês em minha residência. Vosso amigo, Eurípedes Barsanulfo.

Todos estão extasiados com a mensagem e com o fenômeno. É a notícia da aprovação desejada por todos! É a forma de o professor ensinar a não colocarmos limitações ao poder do espírito.

***

O ambiente é de paz e de muita emoção. Nada mais gratificante do que superar as próprias limitações. Todos se abraçam.

 

* * *

 

 

O curso prosseguirá. É a promessa do diretor espiritual  do Colégio Allan Kardec, Eurípedes Barsanuflo. Podemos sempre confiar na promessa desse amigo.

 

 

Ivan de Albuquerque

 

 

Ivan Santos de Albuquerque nasceu em Brotas, estado de São Paulo, em 16/01/1918 e desencarnou em 05/04/1946 com 28 anos. Jovem dedicado ao Bem, foi espírita sincero e trabalhou intensamente em prol da Doutrina Espírita e do amparo de quem sofre. Soube sempre se sacrificar em benefícios dos irmãos e familiares, como também de todos que encontrou em seu caminho. É o espírito amigo que desde 2001 coordena ostensivamente nossas atividades.

 

Eis o trecho de uma apresentação escrita por uma jovem, de treze anos, integrante do grupo Marcos.

 

Ivan é um amigo e tanto! Sempre que peço, ele vem e me ajuda muito! Ele é doce e atencioso, mas também rigoroso na medida certa. Quando tem que chamar atenção, ele fala. Com o Ivan é possível conversar, dialogar de forma tranquila e amigável. Ele nos escuta, nos compreende, nos ama de coração.

Ele desencarnou bem jovem, depois de ter cumprido uma linda missão aqui na Terra. Eu o considero um verdadeiro exemplo.

 

 

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Breve  Explicação

 

Existem trechos que algumas obras citados no livro. Os amigos espirituais apenas nos indicam os trechos dos livros, cabendo a nós, os encarnados, pesquisar e citar os trechos apontados. Esta tarefa, portanto, é de responsabilidade da equipe encarnada. Extraímos trechos de O Livro dos Espíritos da editora Lake e a Revista Espírita do Instituto de Difusão Espírita, IDE.